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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

A violência que não vemos1

GUERRA URBANA/REAÇÃO

Meninos de 3 e 5 anos são obrigados a encostar as mãos na parede durante
incursão de policiais na zona sul de São Paulo

Em favela, Rota 'dá dura' até em crianças

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA

A garotinha de três anos mal sabe falar. Mas a palavra "polícia",
pronunciada pela reportagem em uma visita-surpresa à creche improvisada em
um barraco na favela dos Pilões (zona sul de São Paulo), faz a menina -olhos
negros, grandes e redondos, e penteado maria-chiquinha- ter uma reação
surpreendente: ela se aproxima da parede, põe as mãos para trás e abaixa o
rosto enquanto repete: "Poliça, poliça".
A mulher que cuida das crianças pede ao menino de cinco anos que explique o
que acontece. Ele diz: "A polícia entrou aqui, mandou todas as crianças
encostarem na parede desse jeito e falou que levaria todos nós para a Febem
se a gente não contasse onde estavam escondidas armas e drogas". O garoto se
juntou à menininha, mãos na parede. Mais sete crianças repetiram o ato.
Uma jovem de 12 anos conta que o irmão de dez andava na semana passada por
um beco quando um PM ofereceu R$ 1 em troca de informações: "Onde moram os
bandidos daqui?", perguntou o policial.
"Agora, veja a tragédia que podia ter acontecido se o menino resolvesse
falar alguma coisa para pegar o R$ 1", diz a avó, que tinha ido à creche,
vinda do trabalho como doméstica, para pegar as crianças e levá-las ao
barraco da família.
Na última quarta-feira, às 23h30, os becos da Pilões mancharam-se de sangue.
Uma incursão da temida Rota acabou com três mortos.
Idosos, crianças, mulheres, adolescentes, homens e mulheres, um total de 78
pessoas -contadas uma a uma-, fizeram questão de acompanhar a Folha pelas
ruelas escuras e pelos becos da Pilões na tarde e noite de quinta-feira.
Queriam mostrar o caminho que os jovens mortos teriam percorrido até o
momento em que foram obrigados pelos PMs a se deitar de bruços no chão de
uma área com menos de 16 m2, chamada de "campo de futebol", para receber os
tiros.
O nome "campo de futebol" é uma relíquia da época em que a Pilões ainda
tinha grandes áreas livres. Hoje, o "campo" está ocupado por casas de tijolo
baiano, grudadas umas às outras -só sobrou a pequena área onde os rapazes
teriam sido chacinados pelos PMs.

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